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Fazendo uma Conlang - Evolução Fonológica

Fazendo uma Conlang - Evolução Fonológica

Línguas estão mudando constantemente, e podemos simular essas mudanças em conlangs também, o que pode dar um aspecto mais natural a elas. Aqui serão apresentadas várias mudanças sonoras comuns.

Alofones

Voltando a fonologia, os sons de uma língua não são necessariamente sempre os mesmos, algumas pessoas podem falar um pouco diferente, e essa diferença pode se espalhar entre gerações, e com isso mudanças sonoras ocorrem.

Um fonema pode ter várias realizações diferentes, chamadas alofones. Em português o som de R tem muita variação, especialmente no fim da sílaba, o fonema /h/ tem a realização comum de [h], mas também pode ser [ɹ] (sotaque paulista) ou [χ] (sotaque carioca) ou até mais.

Um fonema é uma coisa abstrata que só existe na língua, e é escrito com / / enquanto um fone é um som real que é escrito com [ ]. Não vou entrar a fundo na diferença entre esses dois, o importante é saber que sons numa língua podem ser feitos de várias formas.

Descrevendo mudanças

Existe uma notação adotada por vários linguistas para descrever mudanças, é bem simples:

b > β Isso simboliza que o som [b] na língua se transformou em [β] em todos os casos.

Mas mudanças sonoras geralmente acontecem em um contexto específico, quando um som está perto de outro, ou em algum lugar especial de uma palavra. Para isso usamos essa notação:

s > z / _r Isso significa que o som [s] vira [z] antes de [r].

Então caso houvesse uma palavra como tasre [tasre] essa palavra seria pronunciada [tazre]

Para representar uma categoria de sons se escreve suas características entre [ ], como por exemplo:

p > b / [vogal]_[vogal] Essa regra significa que todos os sons [p] viram [b] se estiverem entre duas vogais.

Por convenção [vogal] é representado com V e [consoante] com C.

O inicio de uma palavra é mostrado com #_ e o fim por _#, por exemplo:

C > * / _# Representa que todas as consoantes sumiram no fim de uma palavra.

O símbolo para nenhum som pode variar bastante, geralmente é um mas digitar um asterisco é mais fácil, fica a sua escolha.

Mudanças comuns

Com o estudo de linguística histórica algumas mudanças ocorrem frequentemente, por isso elas tem nomes específicos.

Assimilação

Provavelmente a mudança mais comum, onde dois sons próximos ganham características semelhantes. Um exemplo que ocorre virtualmente em toda língua é assimilação de nasais.

n > m / _[labial]
n > ŋ / _[velar]

Então é de esperar que [n] vire [m] antes de [p] ou [b], como é demonstrado na ortografia do português, mas não na fonologia, pois vogais se assimilaram às consoantes nasais e se tornaram vogais nasais.

Uma forma comum de assimilação é a palatalização, em que a consoante fica mais palatal próxima de vogais anteriores. Como no português:

t > tʃ / _i
d > dʒ / _i

Que é porque tia e dia são pronunciadas [tʃia] e [dʒia] na maioria dos dialetos brasileiros.

Dissimilação

É o contrário da assimilação, dois sons parecidos se tornam mais distintos, isso muito comumente acontece com os sons /r/ e /l/. Essas mudanças podem ocorrer mais irregularmente, em palavras específicas. Esses são alguns casos que ocorreram do latim:

līlium > lírio
calamellus > caramelo
nomine > (Espanhol, /n/ muda para /r/) nomre > nombre

Metátese

Quando dois sons trocam de lugar. Também é uma mudança irregular, mas algumas línguas fazem uso regular dela. Novamente há vários exemplos vindos do latim:

parabola > palavra
miraculum > milagre
semper > sempre

Lenição

Outra das mudanças sonoras mais comuns, onde um som se torna mais “fraco”, requerindo menos esforço para produzir.

Uma forma é a maneira de articulação se tornar cada vez mais aberta, seguindo essa ordem da esquerda para direita:

P. Geminada → Plosiva → Africada → Fricativa → Glotal → Sem som
africação espirantização debucalização elisão
pp p pf f h *
tt t ts s h *
kk k kx x h *
t θ ʔ *

Os sons também podem se tornar mais sonoros:

Plosiva → Plosiva vozeada → Continuante → Aproximante → Sem som
vozeamento espirantização aproximação elisão
p b v w, ʋ *
t d ð, z ɹ *
k ɡ ɣ ɰ, j, w *

Alguns exemplos:

(Latim) ca/tt/us > ga/t/o
(Latim) ca/b/allus > ca/v/alo
(Japonês) /p/ito > /h/ito
(Latim Vulgar) cinque /kinkʷe/ > cinco /tsĩko/ > cinco /sĩko/
(Inglês) dæġ /dæɣ/ > day /dej/

Fortição

O oposto da lenição onde o som fica mais forte, é um pouco mais raro e pode ser um tipo de dissimilação.

Elisão

Elisão é a remoção de um som, muito geralmente acontece em lugares sem estresse da palavra.

Uma forma comum chamada apócope é a remoção da vogal (ou qualquer outro som) do final da palavra, vista em muitas línguas:

(Latim) mare > mar
(Inglês) lufu /lufu/ > love /lʌv/
(Espanhol) tanto > tan

No português os sons /l/ e /n/ em latim sofreram elisão:

luna > lua
sirena > sereia
dolorem > dor
salīre > sair

Epêntese

É a inserção de um som, é uma forma que línguas empregam para corrigir sílabas fora da fonotática. Como em palavras vindas do inglês que terminam em consoante, quando vem para português recebem um /i/ no final.

Também pode fazer uma palavra ter um ponto de articulação mais proximo, como em inglês hamster > /hæmpstər/.

Nossa conlang

Essa foi uma longa lista, agora como poderíamos aplicar mudanças em Kwara.

Vamos supor que um grupo dos nômades resolveu seguir um caminho isolado, e com isso desenvolveram um próprio dialeto, vamos aplicar uma sequencia de mudanças na fonologia.

V > * / _#            Apócope
h > *                 elisão de /h/
w > o / _#
f s > v z / V_V       vozeamendo de fricativas intervocalicas
ŋ > ɡ / _{o, u}
ŋ > n / _{a, e, i}    /ŋ/ vira /g/ antes de vogais arredondadas e /n/ caso contrario
V > ə / _[-stress]C   todas as vogais finais antes de consoantes se tornam uma vogal neutra /ə/
b d g > v z ɣ / _#

Alguns sons novos foram introduzidos com essas mudanças: /z ə v ɣ/ que serão escritos . As mudanças sonores ocorrem ao mesmo tempo de mudanças gramáticais, alguns reflexos dessas mudanças em palavras são: