Tentando explicar verbos de Japonês Antigo
Aqui eu vou tentar achar uma explicação hipotética pra conjugação de verbos godan em Japonês, que vem desde o Japonês Antigo.
Motivação
Em Japonês moderno existem duas classes de verbos, ichidan e godan, que tem diferentes padrões de conjugação.
Verbos ichidan sempre tem a mesma vogal na raiz quando conjugam:
Raiz | Negativo | Educado | Dicionário | Potencial | Volicional |
---|---|---|---|---|---|
tabe- "comer" | tabenai | tabemasu | taberu | tabereru | tabeyou |
食べない | 食べます | 食べる | 食べれる | 食べよう |
Verbos godan mudam a vogal na raiz quando conjugam:
Raiz | Negativo | Educado | Dicionário | Potencial | Volicional |
---|---|---|---|---|---|
kik- "ouvir" | kikanai | kikimasu | kiku | kikeru | kikou |
聞かない | 聞きます | 聞く | 聞ける | 聞こう |
E essa mudança das vogais é algo divertido, de onde ele pode ter vindo?
Japonês tem muito mais conjugações verbais que essas, elas são usadas apenas para mostrar as variações do verbo.
A forma volicional é bem fácil, ela é um desenvolvimento recente, antes ele era formado pela raiz com a vogal -a (ex: kika-) e um auxiliar -mu, com o tempo o final -amu foi simplificado pra -au, e por uma mudança sonora au se tornou ou.
Então antes disso verbos godan "Pentígrados" tinham 4 diferentes conjugações, então eram chamados yodan "Quadrígrados".
Vogais de Proto-Japônico
Antes de ir pra japonês antigo é bom saber um pouco do que veio antes.
Proto-Japônico tinha 6 vogais (talvez 7) e elas pareciam uma harmonia vocálica que deve ter sido perdida:
Anterior | Posterior |
---|---|
*i | *u |
*ɛ | *ɔ |
*ə | *a |
Alguns dizem ter uma vogal adicional *ɨ.
De Proto-Japônico a Japonês Antigo algumas vogais se fundiram dessa forma:
- *i > *i (i1)
- *ui *əi > *ɨ (i2)
- *u > *u
- *ai > *əy (e2)
- *ə > *ə (o2)
- *ɛ *ia *iə > *ɛ (e1)
- *ɔ *ua *uə > *ɔ (o1)
- *a > *a
- *ɛ > *i (menos no fim de palavras)
- *ɔ > *u (menos no fim de palavras)
Verbos em Japonês Antigo
Verbos em Japonês Antigo tem 8 classes de conjugação (4 irregulares).
Essas são as conjugações para raízes consonantais:
Irrealis | Infinitivo | Imperativo | Conclusivo | Adnominal | Exclamatório | ||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Quadrígrado | kaka- | kaki | kakɛ | kaku | kaku | kakəy | "escrever" |
N-irregular | sina- | sini | sinɛ | sinu | sinuru | sinurəy | "morrer" |
R-irregular | ara- | ari | arɛ | ari | aru | arəy | "ser" |
A raiz desses verbos são analisados como kak- sin- ar- respectivamente. Muitos verbos desse tipo tem a forma (C)VC.
Essas são as conjugações para raízes vocálicas:
Irrealis | Infinitivo | Imperativo | Conclusivo | Adnominal | Exclamatório | ||
---|---|---|---|---|---|---|---|
E-Bígrado | akəy- | akəy | akəy(yə) | aku | akuru | akurəy | "abrir" |
I-Bígrado | okɨ- | okɨ | okɨ(yə) | oku | okuru | okurəy | "subir" |
Monógrado | mi- | mi | mi(yə) | miru | miru | mirəy | "ver" |
K-irregular | kə- | ki | kə | ku | kuru | kurəy | "vir" |
S-irregular | səy- | si | səy(yə) | su | suru | surəy | "fazer" |
O modo Irrealis é sempre usado com um auxiliar e na verdade foi feito por muitos auxiliares começaram com /a/, então ele foi fixado na forma consonantal.
Os bígrados parecem ser desenvolvimentos depois de um sistema básico. Alguns deles são transitivo ou intransitivo de outro verbo. Alguns parecem vir de adjetivos antigos com um sufixo -i.
O Monógrado sempre termina com -i, ele é formado apenas por 10 verbos.
Tentando recuperar as vogais de Proto-Japonês a conjugação se parece com isso:
Infinitivo | Imperativo | Conclusivo | Adnominal | Exclamatório | |
---|---|---|---|---|---|
Quadrígrado | C-i > Ci | C-yə > Cɛ | C-u > Cu | C-ru > Cu | C-rəi > Cəy |
E-Bígrado | Ca-i > Cəy | Ca-yə > Cəy (+yə) | Ca-u > Cu | *Cu-ru > Curu | *Cu-rəi > Curəy |
I-Bígrado | Cu-i > Cɨ | Cu-yə > Cɨ (+yə) | Cu-u > Cu | *Cu-ru > Curu | *Cu-rəi > Curəy |
Monógrado | Ci-i > Ci | Ci-yə > Ci (+yə) | *Ci-ru > Ciru | Ci-ru > Ciru | Ci-rəi > Cirəy |
*Notas:
- Os verbos do bígrado usam o Conclusivo como base no Adnominal e Exclamatório.
- Os verbos no monógrado não tinham um Conclusivo então eles pegaram emprestado o Adnominal
Possíveis formas antigas
As formas Quadrígrado (75% dos verbos) e E-Bígrado (25% dos verbos) são as mais comuns, depois tem I-Bígrado e por último o Monógrado.
É possível que eles vieram dessas formas em Pre-Japonês-Antigo:
Verbo | Classe |
---|---|
CVC- | Quadrígrado |
Ca- | E-Bígrado |
Cə- | I-Bígrado |
Cu- | I-Bígrado |
Ci- | Monógrado |
A maioria dos verbos (64%) terminados em vogal terminam com -a, outra maior parte termina com -ə (geralmente -əCə) e outra com -u. Verbos com mais de um sílaba terminados em -i parecem ser evitados e recebem algum sufixo que o transforma em quadrígrado ou bígrado.
Não parece ter verbos que terminam com *ɛ e *ɔ. Alguns verbos do Monógrado são repetidos: ni "parecer", ni "ferver" — talvez um deles era nɛ?
Em Proto-Japônico não são permitidas qualquer consoante no coda, então talvez numa língua ainda mais antiga onde eram permitidos explique a existência de verbos quadrígrados.
Japonês Moderno
As vogais *əy e *ɛ se juntaram em e no japonês médio. Assim como *i *ɨ > i, *ɔ *ə > o.
Por fim essas são as origens das conjugações godan modernas:
Raiz | Irrealis | Infinitivo | Conclusivo | Exclamatório | Irrealis |
---|---|---|---|---|---|
kik- "ouvir" | kik + a + nai | kik-i + masu | kik-u | kik-e + ru | kik-a + u |
kikanai | kikimasu | kiku | kikeru | kikou |
O I-Bígrado começou a copiar o Monógrado e se tornou o kami ichidan:
Raiz | Irrealis | Infinitivo | Conclusivo | Irrealis | Irrealis |
---|---|---|---|---|---|
oki- "levantar" | oki + nai | oki + masu | okiru | oki + rareru | oki + u |
okinai | okimasu | okiru | okirareru | okiyou |
- Na forma anterior o conclusivo seria oku.
O E-Bígrado começou a copiar o Monógrado e se tornou o shimo ichidan:
Raiz | Irrealis | Infinitivo | Conclusivo | Irrealis | Irrealis |
---|---|---|---|---|---|
tabe- "comer" | tabe + nai | tabe + masu | taberu | tabe + rareru | tabe + u |
tabenai | tabemasu | taberu | tabereru | tabeyou |
- Na forma anterior o conclusivo seria tabu.
Referências
- Bjarke Frellesvig - A History of the Japanese Language
- Russell - A reconstruction and morphophonemic analysis of proto-Japonic verbal morphology